sábado, 26 de novembro de 2011

... e FÉ. CAMINHANDO COM O TEÓLOGO...


          Amados leitores, depois de algumas postagens nas quais eu reuni frases minhas de cunho filosófico, postadas em redes sociais, eis que agora eu apresento uma coleção de frases de aspecto mais religioso, mostrando a minha face de cristão, um cristão que está buscando a Cristo, mas a um Cristo dissociado das igrejas e das invenções humanas. Espero que essa também seja uma leitura de proveito para todos. Então, depois do filósofo, vamos ao teólogo:

          A Bíblia é um livro extremamente falho em termos científicos, além de ser um poço de contradições. Mas o cristão de verdade sabe, como defendia Kierkegaard, que a Fé nos permite transpor os limites de nossa racionalidade, ainda que isso implique em risco. E nessa busca, se não tiver sua Fé sufocada pelas monolíticas instituições da Igreja, o cristão de verdade vai descobrir a Jesus, que nos diz que Deus, mesmo sendo o Ser Supremo, fez questão de se identificar com a miséria humana, e o fez puramente por AMOR.

          Para os católicos, o matrimônio é um sacramento, ou seja, a bênção do padre tem o poder de mudar a natureza da relação entre o casal, fazendo-a deixar de ser pecado. Os protestantes fazem ainda pior, conferindo esse poder sacramental a um contrato social inventado por homens, que apenas regulamenta direitos e deveres civis em uma sociedade que, pelo menos em teoria, é de natureza laica.

          Que pai exige que um filho sofra por toda a vida as consequências de uma escolha errada feita no passado? O Deus dos cristãos faz isso, ao não permitir que um casal que não mais se ama se separe. São filhos que pedem ao pai o pão, o peixe e o ovo da chance de reconstruir a vida e serem felizes, mas ganham a pedra, a serpente e o escorpião de um contrato social que os prende para o resto da vida (Lc 11: 11-13). Isso não tem nada a ver com o PAI que Jesus nos apresentou.

          Sobre o casamento, Jesus disse que o homem jamais deveria separar aquilo que Deus uniu. Mas em que parte da Bíblia está escrito que a assinatura de um contrato social, ou mesmo a bênção de um ministro religioso, são garantias infalíveis de que se trata de uma união efetuada por Deus?

          O Deus dos cristãos é esquisito: perdoa todo tipo de pecado, sem exigir nenhuma punição... só não perdoa o pecado de um dia na vida ter escolhido a pessoa errada para se casar. Para esse "pecado", Deus exige uma punição severa: ter que viver com essa pessoa, até que a morte de um dos dois liberte aquele que permanece vivo. Tão diferente do Deus de Amor que a tudo perdoa que nos foi apresentado por Jesus.

          São João Batista chama os fariseus (os "homens de Deus" da época) de "raça de víboras". Jesus chama os mesmos fariseus de "sepulcros caiados", branquinhos por fora, mas cheios de podridão por dentro. O livro de Apocalipse chama algumas comunidades cristãs de sua época de "sinagoga de Satanás". E hoje, quando alguém faz alguma crítica à igreja enquanto instituição, é acusado de blasfemar contra Deus. Como se Deus e a igreja fossem a mesma coisa. Não perceberam que a Idade Média acabou faz tempo?

          O Deus dos cristãos é estranho: diz que ainda que façamos maravilhas, milagres, prodígios, nada disso terá nenhum valor se não houver amor. Menos o casamento. O casamento, para o Deus dos cristãos, vale, mesmo sem amor. Tão diferente do Deus de Jesus...

          Dentro de uma igreja, o pastor prega que os filhos de Deus nasceram para prosperar, para usufruir de riquezas, dando como exemplo o carro importado que ele acabou de comprar com o dinheiro do dízimo. Na calçada em frente, o ex-funcionário de seu escritório, que ganhava um salário mínimo e foi demitido por não suportar o ritmo de trabalho imposto por seu patrão, chora, na companhia de uma garrafa de cachaça, pensando: "quando eu realmente for um homem de Deus, como é o meu ex-chefe, também vou prosperar. Mas antes, eu preciso largar esse maldito vício da bebida". O Deus dos cristãos definitivamente é esquisito. Muito diferente do Deus de Jesus.

          O Deus dos cristãos é esquisito. Ele perdoa quem mata, quem rouba, quem explora a prostituição, quem é pedófilo, corrupto, e por aí vai, mas não perdoa quem cometeu o simples erro de assinar um contrato social com uma pessoa a quem prometeu amar por toda a vida, mas não conseguiu. Para esses, o Deus dos cristãos tem apenas uma condenação horrenda: viver nessa prisão, que só não é eterna porque existe a morte.

          No meu Natal à brasileira, o Presépio mostraria o menino Jesus nascido em uma favela. Deitado em um colchão velho, ele teria ao seu lado Maria, mãe-solteira de 15 anos, e José, o velho dono do bar, seu tio, que a acolheu em seu barraco, já que seus pais a expulsaram de casa, ao saber que ela se prostituía. Nenhum animal estaria na cena além de Bandite, cão vira-lata e pulgento catado nas ruas, única compania de José, viuvo há 17 anos. À porta, os três "reis" da comunidade vêm pedir perdão e bênçãos: Baltazar, conhecido como "Taza", chefe do tráfico (e que poderia ser pai de Jesus, pois Maria é uma das muitas meninas que ele estuprou), Melchior, ou "Mel", travesti rainha de bateria do bloco de Carnaval, cega de um olho, graças e uma surra dada por jovens neo-nazistas de classe média-alta, e Gaspar, pastor corrupto que acabou de comprar um carro zero com o dinheiro do dízimo (menos o de José, que frequenta a igreja há 2 anos, tentando se livrar do vício da cachaça, mas que nesse mês não pagou o dízimo porque gastou todo seu dinheiro com fraldas e leite para o menino Jesus). Acharam a cena grotesca? Pois é exatamente esse o escândalo da Cruz: Deus se faz menino em meio às misérias humanas. Especialmente as piores misérias.

          No meu Natal à brasileira, Papai Noel seria "tio Bastião", um carreteiro nordestino de pele mameluca, de calça pescando e camisa de botão (mas já sem nenhum botão, todos eles perdidos pela estrada, durante suas andanças). Tio Bastião conduziria uma charrete puxada por um jegue já velho e desdentado de nome Fedegoso, tirando de seu jacá de vime esperança, emprego, alegria, saúde, fé, educação e comida para todo o povo brasileiro... delírio? Utopia? Concordo. Mas é melhor do que um homem branco de olhos azuis, morando numa terra distante cheia de neve, guiando um trenó puxado por renas, e distribuindo brinquedos...

          Diz a lenda que o filho de Martinho Lutero perguntou ao pai como deveria estar o céu na noite em que Jesus nasceu. Lutero tentou ilustrar enchendo um pinheiro que havia próximo à casa de velas acesas, e assim surgiu a Árvore de Natal. No meu Natal à brasileira, quando uma criança me fizer a mesma pergunta, vou apontar a mangueira atrás de minha casa, que sempre fica carregadinha nessa época do ano, para a alegria da família de saguis que vive nela.

          Uma das coisas que aprendi na vida é que decididamente não é o número de adeptos de minhas crenças o fator que vai torná-las realidade.

           Aprendi mais sobre o ser humano nos últimos anos de convivência do que em toda a minha vida de estudos. Percebi como o ser humano é ao mesmo tempo a mais patética e a mais sublime criação de Deus... ser humano, o paradoxo mais belo que já existiu...

          Nos últimos tempos de minha vida aconteceram-me tantas coisas, tantos conceitos foram revistos, que hoje em dia não sei se sou um cara melhor do que eu era, mas com certeza sou muito mais humano. Com tudo o que essa palavra implica.

          A Fé é o mecanismo através do qual nos tornamos capazes de superar os limites de nossa racionalidade.

          Estás ferido, e cansado da guerra, nobre guerreiro? Não tentes esconder tuas dores, sente-as, sangra, chora, clama pelos céus... assim irás reerguer-te, tal a Fenix que és, e que trazes ao peito. Não tentes ocultar tua humanidade, bravo cavaleiro, vive-a, pois viver é o que te cabe nesse chão que pisas. Sabe que foste chamado a ser herói, e aceitaste o apelo dos deuses, e eles estão contigo, ainda que tu não os veja nessa hora. Sê fiel, meu filho, o Pai está contigo. - Rodrigo Guimaraes, em "Conselhos ao Guerreiro Ferido".

          Na infância, criei um Mico-estrela em um viveiro. Certo dia encontrei-o morto, não sei a razão, talvez de tristeza, por não ter a companhia de outros de sua espécie. Minha avó, sábia, limitou-se a me dizer: "pensa agora na quantidade de macaquinhos que ele deixou de colocar no mundo". Foi meu último animal de estimação. Hoje meu prazer é ver os outros micos pulando de árvore em árvore na mata atrás da minha casa. E assim eu aprendi a amar os animais, deixando eles livres para serem eles mesmos. Amor de verdade liberta.

          Quando criança, apanhei certa feita uma lagarta enorme, e a pus dentro de um pote de vidro, sempre com folhas verdes para alimentá-la. Acompanhei ela comendo, crescendo, tecendo o casulo... até que um dia olhei o pote de vidro e vi uma borboleta imensa, que mal cabia dentro dele. Abri a tampa do pote, e segundos depois eu via a mais multicolorida das borboletas voando, e pensei: "ela fica bem mais bela fora desse vidro fosco". Nunca mais vi a borboleta, mas a lembrança daquelas asas que mais pareciam uma aquarela ficou até hoje em minha mente e em meu coração, mesmo passados quase trinta anos.

          No livro "Spartacus", após a morte do herói que dá nome à obra, Varínia, sua esposa, é vendida como escrava para um Senador do Império Romano, que era apaixonado por ela. Ao ver que ela se entregava às carícias dele sem resistir, o Senador indaga: "você não vai tentar resistir? Onde está aquele seu amor por Spartacus?" Varínia responde então com calma: "o Senhor me comprou, sou sua escrava, sua propriedade, portanto meu corpo lhe pertence, e o senhor pode fazer o que quiser com ele. Mas a minha alma o senhor nunca terá: essa sempre pertencerá a Spartacus." Ouvindo isso, o Senador a liberta. Corpos podem ser aprisionados, mas a Alma não. A Alma têm asas.

          Deus preza tanto a nossa liberdade que nos criou livres até mesmo para não acreditarmos n'Ele.

        Assim o Apóstolo Paulo descreve o verdadeiro Amor: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" I Cor (13:4-7). Uma linda canção de seu tempo. Qualquer coisa que difira disso não é amor, é posse, é mesquinharia, egoísmo.

          O Apóstolo Paulo, ao falar das três virtudes teologais (Fé, Esperança e Amor), coloca o Amor como a mais importante delas. Concordo com ele por duas razões: 1) Fé e Esperança apontam para um futuro na presença de Deus, não serão mais necessárias quando estivermos com Ele. Já o Amor vai continuar sendo exercido para todo sempre. 2) Enquanto Fé e Esperança dizem respeito a nós mesmos, na maioria dos casos, o Amor é sempre Amor por outro, sempre envolve uma relação entre seres.

          Eis a razão pela qual eu não crio pássaros: como vou explicar para a pobre ave que é um gesto de amor mantê-la presa em uma gaiola? Por eu dar água e comida? Mas isso ela tem na natureza. Por ser seguro dentro da gaiola? A ave sabe que existem os perigos, mas sabe também que ela foi feita para voar. Eu não crio aves porque as amo de verdade, e não quero privá-las de seu bem mais precioso: a LIBERDADE. Amor de verdade não aprisiona, não oprime. Amor de verdade liberta.

          Ser feito de amor num mundo feito de poder... ser autêntico num mundo que louva as aparências... buscar a verdade num mundo sedento por conveniência... só a Fé para nos fazer esticar as velas e tocar a nau para frente...

          A maioria das pessoas vive a vida cumprindo papéis sociais. Nascem, crescem, estudam, trabalham, casam-se, têm filhos e os criam... como se isso simplesmente fosse uma obrigação, formalidades para as quais todos nós fôssemos destinados... não, eu não sei viver assim... não sei viver sem que cada um desses atos seja executado entremeado por entusiasmo, garra, enfim, por amor. Quero que minha vida seja um ato de amor...

Um comentário:

Anônimo disse...

Temos um blog novo em Itaboraí:

< http://blogdopedrocunha7.blogspot.com/2011/11/pedro-cunha-nas-tramas-do-brazil.html >