sábado, 27 de novembro de 2010

Perguntas Que Não Querem Calar ou O Rio Pede Paz!


           O estado do Rio de Janeiro vive já há quase uma semana um drama conhecido por todos. Facções criminosas estão começando a reagir à nova política de segurança implementada pelo estado, que expulsou muitos traficantes de suas favelas (que me perdoem os politicamente corretos, mas chamar favelas de comunidades lembra um amigo meu, quando ele diz que um cara bonitinho é simplesmente um cara feio bem vestido). Em cumprimento a ordens saídas de presídios de “segurança máxima”, vindas de conhecidos chefões do tráfico, diversos criminosos, em vários pontos do estado, e de forma aparentemente desordenada, começaram a espalhar o terror, incendiando carros, caminhões, vans e ônibus. Apenas os veículos foram atingidos, nenhum centavo sequer foi roubado das pessoas. Um claro gesto político, efetuado por bandidos tentando mostrar ao mundo que estavam reagindo, que tinham algum poder.
           O governo do estado tomou imediatas providências, e numa operação histórica, onde a polícia militar contou com  a cooperação das outras polícias e das forças armadas, a favela que concentrou o maior número de ataques foi rapidamente ocupada, até com certa facilidade. Digo histórica porque pela primeira vez uma operação deste tipo foi comandada não pelas forças armadas, mas pela própria Polícia Militar. Aliás, é como deve ser. A Polícia Militar é quem mais entende de operações dessa natureza. Câmeras de TV mostravam o tempo todo criminosos fugindo desesperados, com a clara intenção de demonstrar como eles são despreparados, e não têm a menor chance em confrontos de igual para igual com as autoridades.
           O que teria levado os criminosos a essas ações é óbvio. O Rio de Janeiro está definitivamente inserido no contexto mundial, pelo fato do Brasil ter sido escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014, e pelo próprio Rio de Janeiro ser a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A intenção dos criminosos era claramente sujar a imagem do Rio de Janeiro diante do mundo, em protesto contra a ocupação das favelas pelas UPPs. Eles sabem que os olhos do mundo estão se voltando cada vez com mais freqüência para a cidade. Inclusive, um dos canais de documentários de TV a cabo, não me recordo qual, lançou uma série sobre o Rio de Janeiro, onde se discute as reais condições da cidade para sediar eventos dessa magnitude. E a segurança pública é o foco da série.
           Com minha rotina virada de cabeça para baixo, não pude deixar de tecer alguns questionamentos acerca desses problemas. O primeiro vem de uma indagação que tenho feito desde quando comecei a discutir o modelo das UPPs. Será que o governador achava que os traficantes expulsos de suas favelas iriam miraculosamente se regenerar, e começar a vender amendoim ou picolé na praia? Quando se tira um traficante da favela onde ele tem seu “negócio”, e ele não é preso ou morto, ele tem de ir para algum lugar. E logicamente ele vai se juntar a traficantes de outras localidade pertencentes à mesma facção dele, e vai tentar se reorganizar. Para isso eles podem invadir favelas dominadas por facções rivais, ou mesmo começar a praticar outros crimes, com o fim de levantar fundos para retomar suas atividades de tráfico. Ou seja, apenas expulsar os traficantes das favelas não resolve o problema, apenas o transfere de lugar. Mas o governador, que atua mais como se fosse prefeito da capital do que como governador mesmo, está interessado muito mais em “limpar” as regiões onde os futuros megaeventos terão lugar, do que em realmente combater o crime. A segurança pública é de importância secundária.
           Outra importante questão: toda vez que a polícia realmente quer, ela domina totalmente o tráfico. O traficante recebe uma arma tão logo passa a ter forças para carregá-la, e vai para o tráfico sem o menor preparo, enquanto o policial recebe treinamento, e está muito mais preparado para o confronto. O tráfico é covarde, e só parte para o conflito em situações de clara vantagem numérica. Jamais eu soube de um traficante encarar um policial numa situação de igual para igual. Sempre afirmei isso, e a imprensa destacou muito esse fato, mostrando centenas de traficantes batendo em retirada desesperados, diante de um grupo bem menor de policiais. Então a pergunta que não quer calar: se o crime organizado não é tão preparado, como muitos supunham, se a polícia é tão superior assim, por que cargas d’água essas ocupações não foram realizadas antes? Por que nunca tivemos antes essas ações coordenadas entre as polícias civil, militar, federal, e as forças armadas, com as pessoas certas no comando? Se realmente é assim tão fácil, como a imprensa nos fez ver, isso poderia ter sido feito há muito tempo. E novamente a resposta vem do fato da segurança da população ser coisa de menor importância. Assim como os traficantes começaram a baderna para mostrar ao mundo a falta de condições do Rio de Janeiro para sediar Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, nossos governantes agiram para tentar provar ao mundo o contrário.
           Sempre deixando um rastro de verdadeiros mártires do descaso de nossas autoridades, inocentes mortos, feridos, ou com prejuízos de ordem material, esses acontecimentos, no fim, só nos levam a uma triste constatação: boa parte de nossos problemas sociais são questões mais simples e mais fáceis de serem resolvidas do que muitos de nós pensávamos, e do que nossas autoridades tentam o tempo todo nos fazer crer, apoiados por uma imprensa sem nenhuma imparcialidade, subserviente aos nossos governantes, vendida aos interesses do grande capital, e mais interessada em vender um espetáculo do que em realmente informar a população. O que falta para nossos governantes realmente resolverem esses problemas? Apenas VONTADE POLITICA!