sexta-feira, 15 de abril de 2011

HUMOR TAMBÉM É FILOSOFIA ou DIA DO BEIJO?


Vou jogar no lixo a dentadura, neném. Vou ficar banguelo numa boa
É que eu vou fundar mais um partido também!
Vou rasgar dinheiro, tocar fogo nele, só prá variar

(da canção “Só Pra Variar”, de Raul Seixas e Cláudio Roberto)


Sempre considerei o humor uma excelente arma de crítica. Não esse humor repetivivo, alienado e extremamente pornográfico tão em voga na atualidade, do tipo “Zorra Total”. Falo da linguagem humorística de nomes como Ziraldo, Millôr Fernandes, ou como os programas televisivos de humor da década de 80 do século passado.
Passando pelos textos publicados em meu blog, pude constatar uma coisa: muito embora o humor surja pontualmente, em um ou outro comentário meu, o blog ainda carece de um texto cuja linguagem principal seja o humor. Problema fácil e agradável de ser resolvido.
Essa semana vi ser martelado de forma exaustiva, no site de redes sociais Facebook, o fato do dia 13 de abril ter sido o dia do beijo. Dia do beijo, esse povo não tem mais o que inventar, não? Para mim, o ano tem 365 “dias do beijo” (e de quatro em quatro anos tem até 366!), e não apenas um. Pesquisando pela grande rede, descobri uma míriade de datas comemorativas no mínimo inusitadas: dia do leitor, dia do enfermo (imagina alguém parabenizando outra pessoa por estar doente no dia do enfermo), dia dos gatos, dia do contador de histórias, dia da compreensão mundial (!?!?), e por aí vai. E mais divertido (ou deprimente, conforme o seu estado de espírito ou seu nível de conscientização) é ver quase todo mundo aderindo, fazendo propaganda. Sendo assim, resolvi propor a criação de algumas datas comemorativas bizarras (direitos iguais: se outros podem fazê-lo, por que não eu?). Vamos à elas:

1) O dia mundial do peteleco no pé da orelha – imaginem pessoas ao longo do dia trocando petelecos no pé da orelha, como se fossem presentes, e agradecendo-se mutuamente. Ao chegar em casa, o marido poderia dizer à esposa: “querida, tive um ótimo dia: dei 127 petelecos nas orelhas dos outros, e levei mais uns 116” (o dia é do peteleco, não esqueçam. Vale tanto dá-los como recebê-los). A esposa então pensaria: “eu só levei um peteleco, do carteiro. Mas não foi no pé da orelha”. Olha eu escrevendo o mesmo tipo de piadinhas “zorratotalianas” que eu tanto critico!

2) O dia mundial do pum – esse seria sensacional. Todos os restaurantes, bares, churrascarias e afins serviriam feijoada, batata doce, repolho e ovos cozidos. O espetáculo seria imperdível. Poderíamos também realizar competições entre os peidões, tanto os profissionais quanto os amadores. Essas competições seriam divididas em categorias: o pum mais alto, o pum mais fedido (essa um primo meu ganharia fácil), o pum mais longo, exibição de puns polifônicos, puns sincronizados (para aumentar o espírito de equipe das pessoas).

3) O dia do Churrasquinho de Gato, do Angu do Gomes e do Picolé do China – quem vive ou conhece o Rio de Janeiro, certamente já teve contato com esses ícones de nossa gastronomia, essas pérolas do paladar. Quase onipresentes em nossas praças, esquinas e praias, esses incompreendidos pelos nossos órgãos governamentais de vigilância sanitária, por conta das condições de higiene em que são produzidos, bem como pela procedência obscura de suas matérias primas, merecem ser homenageados. Quando nossas autoridades perceberão que são exatamente os germes e bactérias presentes no processo que garantem o sabor inigualável dessas lendas de nossa cozinha? Tentem fazer igual em casa, e vocês perceberão que é impossível. Como diz o grande (em ambos os sentidos) Jô Soares: “o gosto do X-tudo da rua vem do germe da mão do cara que o faz”.

4) O dia internacional dos baixinhos, dos carecas, dos gordos e outros “pontos de referência” – esses desfavorecidos pela mãe natureza, sofredores condenados a atuarem como pontos de referência merecem. “Onde está seu irmão?”, um pergunta, “ali, ao lado do careca”, respondem. Ou então : “se ele alcançou aquela prateleira, então é fácil”. Ou ainda “quando você transa com sua mulher, ela goza duas vezes: uma no ato, e a outra quando você sai de cima”. Essas vítimas da sociedade mereciam até uma medalha, mas eu me contento com um dia dedicado à eles (na verdade a nós, porque eu me encaixo em um dos grupos). Nesse dia, não pagaríamos passagens de ônibus, nem entradas para o cinema, as mulheres seriam obrigadas a dar um beijo em pelo menos um representante dessas categorias, enfim, seria uma homenagem simples.

5) o dia internacional do Funk, do Pagode, do Axé e do Sertanejo Universitário DE QUALIDADE – esse já teria até data definida: seria todo dia 31 de fevereiro, mas apenas naqueles em que a temperatura média em Bangu – RJ fique abaixo dos 10 graus. Eu até propus que fizéssemos competições para saber quem seria capaz de encontrar o maior número de funks, pagodes, axés e sertanejos universitários de qualidade, mas todas as pessoas que entrevistei me disseram que seria muito mais fácil encontrar OVNIs, políticos honestos, enterros de anão e ex-gays.

6) o dia do heterossexual brasileiro – afinal, nós cinco merecemos uma data só nossa, vocês não concordam?

            Uma das muitas frustrações que trago na vida vem do fato de que, apesar de venerar o humor, e de tentar a todo tempo usá-lo como arma de críticas, jamais recebi uma única ameaça sequer de processo judicial. Xingamentos, difamações e outras maledicências já até encheram o saco, mas processos judiciais, que é bom, nem unzinho até agora! Sacanagem: todos os humoristas que admiro já foram processados por suas “vítimas”, e eu nunca fui. Que discriminação! Só porque eles são famosos? Na verdade, eu já até cheguei a sofrer uma ameaça de processo judicial por parte de um conhecido político da cidade onde eu morava, mas não foi por fazer humor. Foi apenas por dizer algumas verdades sobre ele. Algumas eram até engraçadas, mas a intenção não era fazer humor, eu juro pelo Paulo Maluf mortinho! Todavia, nesses tempos em que qualquer coisa que fuja um milímetro que seja de nosso “Catecismo do Politicamente Correto” pode terminar em confusão, me sinto na obrigação de lembrar que tudo o que eu disse nesse texto é apenas humor, apenas uma forma descontraída de criticar o fato de haver datas em homenagem a tudo, e das pessoas só pensarem e falarem disso nessas datas, como se fossem cãezinhos atendendo à voz de comando do adestrador. Inclusive, como já dito, eu mesmo faço parte de um dos tipos sobre os quais fiz humor (apelidos como “salva-vidas de aquário”, “c* de cobra”, “grande pequeno homem”, “gigante”, entre outros que acumulei ao longo da vida, sugerem que tipo seria esse).
            Enfim, espero apenas que me perdoem o meu senso de humor (menos os funkeiros).

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